Somos gerados no ventre de nossas mães, aprendemos a ocupar espaço à medida que o tempo passa. Vamos nos tornando mais independentes durante esses nove meses e meio em que estamos tranquilos e seguros nesta primeira casa. Ao final deste período nos sentimos prontos para alcançar outros espaços e por isso saímos. Meio que sem pedir permissão chegamos ao mundo e a surpresa é tão grande que choramos. Assustados ou não, anunciamos a nossa chegada.
Nos primeiros momentos vamos aprendendo com a experiência e a curiosidade. Fazemos de tudo para isso. Somos curiosos, brincamos com as coisas, mexemos em outras e todos que nos cercam sorriem e, de certa forma, nos apóiam em nossas ações. É divino o processo de aprendizagem e descoberta do mundo!
Crescemos mais um pouco e, ao que parece, o mundo vai se fechando e tentando nos colocar em outro ventre. Incômodo, escuro e com paredes enormes que nos cercam. Um teto acuador que nos impede a recepção de qualquer raio de luz. Então, nos tornamos cegos. Tabus, crenças, moral, ética são apenas alguns dos tijolos que compõem essas paredes. A religião, que segundo seus seguidores liberta, muitas vezes vem fechar o teto dessa caverna criada. E onde havia luz, há trevas!
Passamos, então, a usar correntes que nos unem uns aos outros e limitam ainda mais nossos movimentos nesse espaço. Sem luz e agora sem movimento, continuamos crescendo sem outra perspectiva se não esta imposta por um conjunto de fatores que nos castram a liberdade de ser e pensar. Não arriscamos se quer tentar, pelo menos, nos livrar dessas correntes e assim termos um pouco mais de liberdade dentro desse espaço. Que saudade do ventre original, lá éramos seguros e estávamos protegidos.
Mas, eis que de repente alguém se solta. Por alguma razão, alguém não aceita a condição de prisioneiro e quebra as correntes. Caminha naquele mundo sem luz e volta à luz da razão que o conduz para fora da caverna. Ao sair, encontra outro universo de possibilidades que lhe ofusca a vista. No inicio se encandeia, é certo. Mas acostuma-se com a nova perspectiva e passa a reconhecer o terreno. Ele não faz ideia do mundo que lhe aguarda. E tal qual a criança fora do ventre que em seu primeiro momento anuncia sua chegada. Mexe, constrói, perturba e volta a apreender.
A liberdade de pensamento e de ações é assim, nos conduz a condição de crianças reconhecendo o espaço. Reaprendemos a aprender, portanto. E esse ser, agora liberto, resolve voltar àquela caverna de onde saiu para contar tudo que viu. Corre e entra em seu segundo espaço, lugar onde todos que conviveram com ele continuam acorrentados e presos. Conta o que viu e discute a liberdade que se tem ao sair daquele lugar. É alvo de críticas, de desconfiança, provoca medo, é acusado de subversivo e lhe oferecem as correntes outra vez. Ele recua e se recusa a usá-las. Ele não se rende e tenta convencer a todos do que podem ser e construir. Ninguém acredita e ainda lhe perguntam o que houve com ele. Indagam sobre o lugar por ele descrito. Não entendem. Acham que é mito e que talvez sair daquele ambiente não tenha lhe feito bem. Convidam-no a permanecer ali, fazendo tudo que fazia antes. Mais uma vez ele recusa. Ele se volta à porta de saída e, pela última vez, convida a todos a sair dali. Um grito é lançado da parte mais profunda daquele ambiente: Volte para essa caverna que te alterou a consciência! Volte! Você realmente não é mais um de nós. Vai ser difícil aceitá-lo aqui outra vez. Sem hesitar dá os seus primeiros passos e, com os olhos cheios de lagrimas, segue em direção à saída, tal qual a criança no momento que deixa o ventre da mãe. Saiu sem olhar para trás e nunca mais ninguém o encontrou.
Pense nisso!
Robson Brufford
Referência:
Filosofia e políticas educacionais, Gabriele Greggersen, Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário